Da Carta Capital
Na segunda-feira 16, a tentativa de politizar o drama dos viciados em crack, hoje alvo de uma operação da Polícia Militar em São Paulo, ganhou contornos partidários. Em debate promovido pelo PSDB, os pré-candidatos do partido para prefeito de São Paulo utilizaram o tema como mote para criticar o PT de Fernando Haddad, provavelmente o principal concorrente na disputa. Andrea Matarazzo, secretário estadual de Cultura, aproveitou para bater na gestão de Marta Suplicy na capital paulista, entre 2001 e 2004 – e que segundo ele, teria sido reponsável por consolidar o crack na região da Luz, no centro da cidade, conhecida como Cracolândia.
Foi o sinal mais claro, até o momento, de fugir da questão jogando no colo de um adversário político.
Mas não foi o único.
Também pré-candidatos, o deputado Ricardo Trípoli e o secretário José Anibal (Energia) buscaram “federalizar o problema”, com críticas aos governos Lula e Dilma Rousseff – que, segundo eles, não conseguiram impedir a entrada da droga no país durante a gestão pela Bolícia nem oferecer tratamento adequado aos viciados no Sistema Único de Saúde (SUS). Bruno Covas, secretário estadual do Meio Ambiente, seguiu a linha, mas de forma menos estrondosa. Disse no debate que a prefeitura não pode e não será entregue a grupos que querem se perpetuar no poder. (Continua)
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A tucanagem está desesperada
Do site do Zé Dirceu (publicado em 17-Jan-2012)
Responsável pela mais desastrada intervenção já promovida na cracolândia paulistana, considerada unanimemente como uma tragédia, a tucanagem paulista está desesperada, agora buscando responsáveis pelo caos que instalaram em São Paulo. Mas esta ação policial-repressiva desencadeada na área terminou se convertendo no centro do debate entre os quatro pré-prefeituráveis tucanos ontem. Um deles vinculou o PT à disseminação do crack na capital; outro acusou o governo de não prestar assistência do SUS aos dependentes químicos. Ora, culpar o PT é esquecer que José Serra deitou falação sobre o combate às drogas em suas campanhas eleitorais, mas seu governo, os anteriores tucanos, e agora este de Alckmin, nada fizeram com relação ao crack.
Quem governa o Estado há 30 anos?
http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14244&Itemid=2
(Continuação)“O crack não é oriundo do Brasil. Eles estão há nove anos no governo e não fizeram nada para que os entorpecentes não entrassem pela Bolívia. Agora vem aqui dar palpite na política de São Paulo”, disse Trípoli.
“Hoje, o SUS não finacia o tratamento dos dependentes”, acrescentou Aníbal. Ao mesmo tempo, questionado sobre a ação deflagrada pelo governo estadual no sabado 14, Haddad disse ao jornal Folha de S. Paulo que a operação foi desastrada. Matarazzo saiu em defesa e acusou o PT de estar fazendo politicagem com a situação.
O episódio se contrapõe ao discurso de que a presidenta Dilma viva uma “lua de mel” com os governos estadual e municipal de São Paulo. E que os esforços para mostrar ações integradas entre as esferas do governo são apenas discurso.
Na quinta-feira 12, a presidenta havia defendido o bom relacionamento entre os partidos de oposição, no que ela chamou de decoro governamental. “É impossível no Brasil um governante achar que se governa sem os governos estaduais e os prefeitos. Não governa”, disse.
Em entrevista a CartaCapital, o arquiteto Jorge Bassani, que pesquisa a região da Cracolândia, afirma que pouco foi feito nos últimos anos para tentar solucionar o problema dos viciados na região central de São Paulo. Agora, no fim da gestão, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) tentou mostrar sua atuação. Alckmin, segundo ele, aproveitou para “tirar uma casquinha”, com o aumento da visibilidade possibilitado pela ação da Polícia Militar. “Essa gestão vai sair completamente desmoralizada em relação à Luz”, afirma Bassani. “A operação corre o risco de se tornar algo meramente midiático”.
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‘O projeto Nova Luz não convenceu o capital privado’
Concebido como estratégia para valorizar o centro de São Paulo, o Projeto Nova Luz não conseguiu até hoje atrair o interesse do mercado imobiliário para a região. É o que afirma o arquiteto e urbanista Jorge Bassani, coordenador de grupo de pesquisa sobre a área na Faculdade de Arquitetura e Urbaismo da USP. Para ele, a operação deflagrada no dia 3 de janeiro pela Polícia Militar é uma última tentativa da prefeitura de Gilberto Kassab (PSD) de mostrar serviço ao tentar solucionar o problema dos viciados em crack, instalados há anos no bairro.
“É o último ano dessa gestão, não vão conseguir mais nada”, diz ele.
O Projeto Nova Luz existe há mais de 30 anos e nunca foi realmente implantado. Em 2010, a Prefeitura realizou concessão urbanística para a área.
O grupo de empresas vencedoras tenta agora atrair investimentos de construtoras. Antes disso, ainda na gestão Serra, um leilão para construir na área não teve nenhuma incorporadora interessada, segundo Bassani.
(Continuação)
Embora seja cedo para avaliar se de fato a ação vai despertar o apoio da opinião pública, a Folha de S. Paulo noticiou nesta terça-feira 17 que Kassab tinha em mãos uma pesquisa de opinião, desde 2011, mostrando que população demandava uma atuação mais forte na repressão ao uso e tráfico de drogas.
A operação foi criticada na mídia pela falta de sincronia entre a repressão policial e estratégias de tratamento e pela ausência de comunicação entre os altos escalões governamentais.
Além disso, especialistas apontam que repressão é desmedida, e a estratégia tem um perfil higienista. Na segunda-feira 16, a própria PM inaugurou uma estratégia de comunicação para reforçar a imagem da instituição durante a operação Centro Legal, com auxílio de sites e redes sociais. Além de textos explicando objetivos da ação, a PM criou uma página no Facebook em que internautas podem prestar apoio à instituição.
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